Brega para todos os gostos

Se há duas décadas o termo brega era pejorativo, hoje, o que era cafona transformou-se num fenômeno sócio cultural, tendo em vista a mudança de seu contexto social. O gênero que ainda é reprovado pelos padrões estéticos da mídia, vem ganhando o gosto do povo. Ele deixa de ser porta voz apenas de uma categoria socioeconômica desfavorecida e passa a ser degustado também pela burguesia. Nasce assim, o brega como música amplamente difundida, ou seja, o brega sem frescura e preconceito!


Se o radinho de pilha foi o responsável por grudar o brega na cabeça do povão, o trunfo da internet foi levar o o ritmo da cozinha para sala de estar. As parafernálias digitais permitiram que o brega incorporasse novas sonoridades. O gênero que surgiu como um ritmo romântico, hoje chega com o batidão eletrônico, dando luz ao Tecnobrega. Com origem paraense, essa nova vertente é a fusão da música eletrônica e as influências locais, como o carimbó e a guitarrada. A junção disto tudo mais o gingado da lambada e da melodia caliente do merengue, constrói a principal vertente do “novo brega”, o calypso, que teve divulgação feita pelos vendedores de cd “alternativo”. Já o eletromelody se trata de uma versão mais rápida e pesada do tecnobrega. É a fusão da música de festa paraense com a dance music européia.


As facilidades tecnológicas não só levaram o brega à mais pessoas, como também levaram luz ao florescimento na produção do estilo, que é feito a preço de banana. Basta um computador e assim se faz um brega! Segundo Kléber Fonseca da Silva, produtor e cantor da Banda Lapada, o movimento brega transformou-se numa coisa caseira, não se usa mais grandes estúdios. Kléber diz que o músico de brega não ganha dinheiro com venda de cd, e sim com a música. Para isso, ele precisa fazer shows para divulgar seu trabalho. Nesse contexto, a internet surge novamente como um canal de difusão do gênero musical, contribuindo para grandes hits como o recente “Minha mulher não deixa não” de Reginho e Banda Surpresa e “Faz o V e vem pra cá” da Banda Djavú. Outro exemplo vivo (ou não, já que o dito cujo nunca mostrou as caras) é o DJ Cremoso, que transforma qualquer coisa em tecnobrega.


Entretanto, o brega enquanto música de massa e com todas as facilidades de produção e consumo nos dias de hoje, levanta a questão da vulgarização do ritmo. Segundo o professor de música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Felipe Trotto, essa banalização não é possível, pois nem todo mundo que produz música consegue fazê-la circular e torná-la um sucesso. Para Felipe, a tendência é uma proporcionalidade entre a quantidade de pessoas que fazem música e uma melhor taxa de eficácia no que está sendo proposto, uma vez que haverá mais cabeças pensantes no processo de criação.
Para Kléber, a banalização não acontece pelo fato de que só quem tem conhecimento da música brega e das técnicas de produção é capaz de fazê-la.


Olhando bem para a cena construída pelo brega, o que se vê são todas as classes, cada qual com seu modo de absorver esse irreverente e pomposo estilo musical, se juntando cada vez mais por um mesmo propósito: se divertir! Mas esta coisa toda não é só diversão. A gente entra na festa e não para de dançar. Mas quem balança mesmo é o mercado das grandes gravadoras que não sabem aproveitar um bom som livre. É assim que o brega incomoda muita gente, sem se importar e até alimentando a pirataria com dosagens pesadas de vários grandes sucessos.


Gabriela Almeida e Marina Suassuna

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