O contexto de exclusão em que ainda se encontra a população produtora do brega, nos dias de hoje, sugere aos próprios criadores desse gênero musical um tipo de transformação.O desejo de fazer parte do sistema, ser um grande artista, ultrapassar os limites de um público consumidor local faz dos produtores independentes membros ativos no processo de legitimação do espaço da música brega dentro do mercado.
Ao chegar ao Camelódromo da Av. Dantas Barreto, numa tarde de quinta-feira, deparei-me com uma cena comum aos olhos de quem transita pelo local diariamente: uma aglomeração de carrinhos de CDs piratas dividem as principais vias e calçadas da avenida com veículos e pedestres. A Dantas Barreto é o nicho do brega, já que é praticamente impossível caminhar pela avenida sem compartilhar das ondas desse ritmo. Ali, o estilo musical encontra espaço para se manifestar sem limites.
Marcos Antônio da Silva, 36 anos, ambulante de cd pirata no local há doze anos, afirmou que adquire os hits através dos próprios músicos das bandas e reproduz cópias para vender, contribuindo para a difusão do ritmo nos grandes veículos de comunicação. ”Lançou uma música e foi boa, a gente já estoura na mídia (sic)” , diz ele, que, um dia, já foi DJ e hoje recebe as versões em primeira mão de amigos como DJ Deni, DJ Jesus e Kléber da Banda Lapada.
Para o Mestre em Comunicação e Professor da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Fernando Fontanella, a intenção do brega não é ser nem fazer arte. “O brega é uma indústria cultural, tem o objetivo de vender, de se adequar a uma lógica de mercado”. No entanto, essa lógica é transformada a partir do momento em que o brega se torna uma cultura de pirataria, totalmente antimercado no sentido de contrariar as leis do modelo capitalista vigente.
Seguindo uma lógica própria, o comércio do brega sustenta sua expressão através das novas tecnologias. A internet aparece como uma ferramenta determinante na dinâmica desse mercado. “Quando lança um brega que não tem no comércio, a gente procura baixar na internet”, revela o ambulante Marcos, que chama atenção para o aumento de consumidores do ritmo depois que a internet passou a ser usada como recurso facilitador do seu trabalho.
Há poucos metros do camelô de Marcos, encontrei o ambulante Wanderson Floro do Nascimento, 21 anos, que há três anos permanece na Dantas Barreto com a sua carrocinha dada de presente pelo tio, dono de uma pequena produtora. O comerciante também vê a internet como instrumento vital para o sucesso das vendas. Ao contrário de Marcos, o comerciante faz uso apenas da ferramenta para baixar as músicas de brega e tirar as cópias para vender. Geralmente, Wanderson compra cada unidade de cd virgem a R$ 0,35 e as vende por R$ 3,00, duas por R$ 5,00. Segundo ele, a concorrência entre os camelôs é grande. “Muitas vezes há disputa para ver quem bota o som mais alto”, diz o jovem achando graça.
Esses ambulantes, que tem como única fonte de renda o comércio de CDs piratas, não deixam dúvidas de que as novas tecnologias vieram para enriquecer a finalidade de seus trabalhos, incrementando ainda mais o consumo. É a voz de um segmento que constrói seu dia a dia atendendo a dois objetivos: a garantia da própria sobrevivência e a difusão do brega.
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